Cuca de Uva

Torta de uva 682x1024 - Cuca de Uva

Cuca de uva é tudo de bom!

Depois de toda aquela verdadeira Festa de Babette que Luiza Estima e Luna Garcia, contaram na matéria Comida de Colono italiano no Rio Grande do Sul, com direito a Receita de Sagu ; chegou a hora de mais uma deliciosa história de viagem e da Cuca de Uva da Marli.

BoloDeChimarrão 682x1024 - Cuca de Uva

“No dia seguinte, logo cedo, mais descobertas. Na mesa do café no Hotel Intercity Caxias do Sul encontramos o que queríamos (e precisamos, diariamente) em frutas, iogurtes, queijos, pães integrais, sucos. De uva, em primeiro lugar.

E surpresa: bolo de chimarrão. Provamos curiosas e assustadas (o que não inventam com a tal da erva mate!). As opiniões se dividiram, mas aprovamos a inclusão do bolo de chimarrão nos nossos alfarrábios – tanto pelo inusitado da proposta como pelo êxito da empreitada da cozinheira, que, mesmo sem querer/poder nos dar a receita, entregou as dicas para fazê-la. Um bolo branco comum serve como base. A parte líquida é que deve ser alterada para a medida de 4 colheres de sopa de chimarrão (a erva-mate em infusão e depois peneirada). Uma calda de açúcar é boa para cobrir e enfeitar, feita com o chimarrão no lugar da água. E está pronta a formosura esverdeada. O Intercity serve chimarrão para os hóspedes a qualquer momento e foi aí que nos iniciamos na bebida: traz um chimarrão para acompanhar o bolo! Em todas as paradas pedíamos mais. Decidimos comprar o kit completo – cuia, bomba, erva, térmica e estojo de couro para acomodar a tralha – e beber a qualquer hora.

Pessegos 682x1024 - Cuca de Uva

Saímos ligadas no 220 para passear no Vale dos Vinhedos e Caminhos de Pedra, as regiões mais lindas da Serra de Caxias e Bento Gonçalves, marcadas pela cultura e tradições italiana, especialmente a culinária. Tiz e Carol, nossas Calcinhas convidadas, conduziram nossos passos e nos mimaram com uma linda cestinha recheada de crostoli/cuecas, sagus em potinhos com colher, ameixas.

Primeira parada: o “caminhón das fruta”! Tem em todo o trajeto: o agricultor traz seus produtos – e de outros colegas – para vender na estrada aos turistas e passantes. Paramos onde tinha pêssegos deslumbrantes, cheirosos e perfeitos. A moça simpática corta a fruta e já largamos comendo. Uvas e ameixas compõem o pratinho frugal do passeio. A gente registrou esses momentos sublimes no Calcinhas na Estrada, fotos das frutas e das calcinhas em pleno pic nic. Depois a Luna fez fotos profissionais, lindas, que compõem a coluna do Cuecas, como esta aqui.

CaminhosDasPedras 1024x682 - Cuca de Uva

Próxima parada: a linda casa de pedra, restaurada e decorada, que abriga a Salumeria, mostra de produtos da marca Aida, que é a fabricante, onde se abriga um projeto histórico e cultural de resgate dos costumes dos imigrantes italianos desenvolvido pelo Fabiano, bello ragazzo que nos encantou com a degustação de diferentes embutidos – copa, salames, lingüiça light, entre outros – e a explanação de sua causa.

CaminhosDePedra2 1024x682 - Cuca de Uva

Em seguida fomos para a Casa do Chimarrão conhecer os processos de beneficiamento da erva-mate desde os primórdios, em equipamentos do início do século XX, com um belo moinho. Logo ali, atravessando a rua, dá pra comprar a erva-mate do lugar, de boa textura e sabor. Enchemos as sacolinhas e fomos descansar em um banco em frente, atravessado a estrada a pé, onde uma casa estilo galpão, em madeira, nos chamou a atenção com a placa: cucas! Perdição em forma de pão doce, a cuca é uma herança da colonização alemã que se alastrou pela serra gaúcha como o vinho para a colonização italiana. Encontra-se em todo lugar e uma é melhor que a outra. Mas a Marli Graef nos ganhou a tarde e a dose de doçura do dia com todo o seu encanto e garra de mulher, mãe e cozinheira que traz em suas veias e receitas.

Marli 682x1024 - Cuca de Uva

Descendente de alemães nascida em uma pequena cidade com o sugestivo nome de Alecrim, na fronteira noroeste do Rio Grande do Sul, Marli é casada, tem 46 anos, quatro filhos e agora uma cozinha equipada e autorizada a comercializar cucas, cuecas viradas e outros doces para os felizardos que passarem pela frente da placa discreta onde ela anuncia os produtos. Mudou-se para o Vale dos Vinhedos para ajudar a filha que já estava lá no comércio de produtos com uva (encontramos um creme hidratante para mãos feito com espumante que é maravilhoso). Ao lado da casa, chama a atenção um pequeno e bem cuidado parreiral de uvas de mesa. “As pessoas param para ver as uvas e querem comê-las, então eu dou a tesoura e um cesto e elas podem colher”, explica Marli com naturalidade. “Pesamos e cobramos por quilo”, finaliza. Por R$ 6 é possível levar um quilo de uvas Italia, Rubi ou Benitaca, as variedades cultivadas no local, depois de colhê-las na hora – só do final de janeiro até abril.

Marli nos oferece chimarrão e traz uma surpresa recém saída do forno: a torta de uva. Amparada por papel manteiga nas mãos da confeiteira, a torta é uma delicia só de olhar e começamos a imaginar como será comer os pedaços crocantes cobertos pelas uvas pretinhas (Isabel) desmanchando-se sobre a massa. Tão linda que é, a Luna pede para controlarmos nosso desejo e a leva para uma foto, mas é tarde demais. Assim, a nossa torta de uva, que se transformou no presente da Marli para as Calcinhas, sai na foto como ela é: aos pedaços, impossível de passar incólume por olhos e bocas aguados de paixão. Ainda ganhamos a receita!

Cuca de uva da Marli

1 kg de bagos de uva (a da Marli é feita com uvas viníferas)

4 xícaras de farinha de trigo

2 xícaras de açúcar

1 ovo

1 colher de sopa de fermento químico

150g de manteiga (feita por ela, com a nata)

Para preparar, é só misturar todos os ingredientes com as mãos, fazendo uma farofa crocante. Untar uma forma quadrada (tabuleiro) com papel manteiga e cobrir com a massa até um centímetro. Deixar um pouquinho da massa para colocar ao final. Cobrir toda a massa com os bagos da uva. Por fim, jogar mais da farofa/massa sobre o recheio de uvas e assar em forno a 180o por cerca de 30 minutos. A farofa fica crocante!

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Lembramos do termo em italiano para rechear o pescoço da galinha…: ripiena! É assim que nos sentimos depois de nos locupletarmos com a torta e partimos para o Vale dos Vinhedos, cheias, também, de alegria por encontrar tanta vida e histórias de calcinhas destemidas como nós, cada uma do seu jeito.

O Vale está em seu pleno vigor, aguardando mais umas semanas para a colheita que inicia no final de janeiro e se estende por fevereiro e mais, dependendo da variedade cultivada e das condições do clima. Encontramos os vinhedos de diferentes formas – espaldeiras, quando estão em fileiras, latada, naquela espécie de carramanchão.

ValeDoVinhedo 9 1024x682 - Cuca de Uva

Nosso passeio termina junto com a luz do dia – no Sul ela se encerra às nove horas da noite. É muito lindo! Aproveitamos a noite para jantar e escolhemos uma casa tradicional de cozinha familiar, em Caxias do Sul, para comer sopa de agnolini, massa recheada com pien e cozida no brodo. Reconfortante. Acompanhamos a massinha com uma Polar, a cerveja que é exclusiva do Rio Grande do Sul e não é vendida no resto do país, parte de uma engraçada estratégia de marketing gaúcho – eles adoram saber que a cerveja só pode ser bebida no Rio Grande do Sul. A Polar vai ser nossa companheira em diferentes momentos da viagem, em inúmeras harmonizações.

Alessander Guerra

3 Comentários

  1. DESEJO FAZER A RECEITA TORTA DE UVA, COM AS UVAS DA VIDEIRA DO MEU PAI, SITUADO EM REGIÃO SUDESTE DE SÃO PAULO, NÃO SEI DISTINGUIR AS QUALIDADES DE UVAS, MAS DEVIDO A ABUNDANCIA DA PRODUÇÃO ACHO QUE VALERIA A PENA TESTAR A RECEITA. LOGO MAIS POSTAREI O RESULTADO. ABC

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