Delicadeza se põe à mesa no restaurante Nelita. Senta que lá vem história!
chef Tássia Magalhães, restaurante Nelita (foto Rubens Kato)
Segundo o Michaellis, delicadeza é atenção minuciosa, atitude cuidadosa, qualidade do que é delicado, sensibilidade de sentimentos, apuro, esmero, minúcia, sutileza.
Assim é a cozinha da chef Tássia Magalhães no Nelita, restaurante que completa três anos e coleciona prêmios nacionais e internacionais. Tássia imprime ao DNA italiano da casa, brasilidade que conta sobre suas origens no Vale do Paraíba.
A técnica, presente em cada prato, é apenas uma ferramenta para atingir um propósito maior, contar a própria história, conectar o comensal com as memórias afetivas, culturais e gastronômicas da chef.
Flor de tomate, baunilha e leite de búfala (foto Ale Guerra – Cuecas na Cozinha)
Vale do Paraíba
Nascida e crescida em Guaratinguetá, município que pertence ao Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, Tássia conhece muito bem a cidade, bem como a região que ganhou destaque no cenário nacional no final do século XVIII com o ciclo do café, ficou famosa por sua pecuária leiteira e hoje, é a maior produtora de variedades especiais de arroz.
“Guará” também foi berço de inúmeras expressões culturais e artísticas, tendo Di Cavalcanti como um de seus moradores mais ilustres. O artista foi um dos principais idealizadores da Semana da Arte Moderna de 1922, marco inaugural do modernismo no Brasil.
Sua pintura “Cinco moças de Guaratinguetá”, de 1930, retrata mulheres da família do Palhaço Piolin (ícone da cultura nacional, o maior artista circense do Brasil) e chamou atenção de artistas do movimento modernista. Hoje, o quadro faz parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Inspirada no quadro “Cinco moças de Guaratinguetá”, a chef Tássia Magalhães criou suas bases do novo momento do Nelita: brasilidade, pertencimento e feminilidade.
“Alguns dos ingredientes do Vale do Paraíba nós usamos desde a abertura do Nelita, mas esse menu foi todo pensado para valorizar a terra de onde vim, a sua rica história e os pequenos produtores do interior de São Paulo”, diz Tássia.
Cappelli de Funghi e Berinjela defumada (foto Ale Guerra – Cuecas na Cozinha)
Nelita
Estive num jantar, na primeira segunda-feira em que o Nelita foi aberto ao público, sim agora o restaurante abre às segundas. Provei muitos pratos, que foram compartilhados na minha mesa.
Antes de mais nada, primeiro ponto que eu gostaria de destacar é a capacidade que a Tássia e sua equipe, composta apenas por mulheres na cozinha, possuem de dar protagonismo aos vegetais.
Ziti | Couve Flor | Baroa | Jambu (foto Ale Guerra – Cuecas na Cozinha)
Assim, basta provar o Cappelli de Funghi e Berinjela defumada, uma massa feita com cogumelos, recheada com compota de berinjela e tomate e finalizada com caldo translúcido de berinjela defumada (R$92) para entender o que estou dizendo. Enfim, amei esse prato!
Bem como: Beterraba | Rabanete | Iogurte | Poejo (R$72) ; Abobrinha marinada | Beurre Blanc (R$88) e a massa Ziti | Couve Flor | Baroa | Jambu (R$135). Escritos assim mesmo no cardápio, para dar protagonismo a cada ingrediente ou preparo utilizado.
Linguini | Cenoura | Ikura (foto Ale Guerra – Cuecas na Cozinha)
Nelita – Menu delicado
Outro ponto é a sofisticação de um ingrediente a partir da técnica: O Linguini com suco de cenoura, alho-poró e algas é finalizado com ovas de truta do Vale do Paraíba (R$145). A valorização das ovas de truta no Brasil é algo incomum. Então, é bom lembrar que os japoneses apresentaram ao mundo suas alaranjadas ovas Ikura, provenientes do salmão selvagem do Alaska; assim como os russos conquistaram paladares ao redor do mundo com o seu caviar de ovas do peixe esturjão.
Cozinhas modernas não desperdiçam ingredientes: o leite de búfala de Pindamonhangaba é utilizado em forma de coalhada no snack de flor, tomate fermentado e baunilha (R$72 – 4 unidades). O soro resultante transforma-se em gel para o Risotto de aspargos com radicchio (R$178), prato feito com arroz de altitude de Guaratinguetá, cultivado aos pés da Serra da Mantiqueira.
Meu prato preferido
Gostaria de destacar meu prato preferido Agnolotti de Cabra com Limão Confit, Mel e Alho Negro (R$165). Tudo está lá, mas ninguém rouba a cena, equilíbrio delicado de muitas sensações no paladar, o ácido, o azedo, o doce. A apresentação é uma pintura minimalista, que convida a desvendar cada pincelada.
Agnolotti de Cabra com Limão Confit, Mel e Alho Negro (foto Ale Guerra – Cuecas na Cozinha)
No capítulo Riso, Peixe, Carne – Risotto | Aspargos | Radicchio (R$178). Suculenta Pescada | Mandiocas | Velouté (R$172). Bela combinação de Porco | Pêras | Pão Tostado (R$170) e Entrecôte | Eriynghi | Cavolo Nero | Aligot (R$198)
Para as sobremesas: Chocolate | Capim Santo (R$51); Coco | Abacaxi (R$39) e Choux | Manga (R$37).
Além do à la carte, é possível optar pelo menu degustação (R$590), de 11 etapas, servido apenas no balcão, no jantar de terça-feira a sábado. Os pratos são os mesmos do à la carte, em porções reduzidas.
Chocolate | Capim Santo (foto Ale Guerra – Cuecas na Cozinha)
Carta de Vinho
A seleção e o serviço de vinhos do restaurante ficam a cargo do Danyel Steinle. Sua carta foca em naturais, orgânicos e de pequena produção.
Para acompanhar as entradas, ele serviu o biológico branco português da região da Beira Interior, Quinta da Biaia 750 safra 2020, elaborado com uvas Síria.
A história da Quinta da Biaia remonta ao século XVII. Com vinhas plantadas a 750 metros de altitude, o vinho estagia por 8 meses em barricas de carvalho francês usadas. Sua característica cítrica trouxe então versatilidade na combinação com as diversas entradas que provamos.
Na hora dos principais Danyel começou a servir o Escala Humana Livvera Sangiovese tinto 2021. O vinho foi o primeiro projeto da Escala Humana Wines, desenvolvido por German Masera, um dos enólogos mais respeitados de Mendoza (Argentina) quando o assunto é vinho natural.
As uvas Sangiovese foram colhidas manualmente no Vale do Uco e envelheceram por 4 meses em ovos de concreto com fermentação 100% natural, sem sulfitos e sem conservantes. Dessa forma, o resultado é muita fruta vermelha, boa acidez e corpo leve, permitindo harmonização com os diversos pratos provados.
Serviço:
Visitado em Julho de 2024 (preços do menu nessa época)
Rua Ferreira de Araújo, nº 330 – Pinheiros. São Paulo/SP
Mais infos @nelita.restauran
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