As Gurias
O que você vai encontrar nessa nova coluna do Cuecas na Cozinha?
Um pouco da história e depois nossa primeira prosa : Uva e Vinho!
O Alê do Cuecas
(por Luiza Estima)
Foi num bar de cervejas especiais que eu me aproximei do Cuecas e conheci o Alê Guerra.
Até então tínhamos uma elegante relação profissional. Moderno e discreto, festeiro mas comprometido, sofisticado de ideias, fomos nos tornando amigos pela afinidade de propósitos que se revelaria ao longo de conversas, pratos e taças compartilhadas.
Um dia eu saí do armário e falei pra ele que gostaria de escrever.
Ele deu linha.
Agora, solto o verbo e as rédeas e peço permissão e bênçãos para o Alê nessa empreitada.
Pergunto se em vez de cueca e receita “posso falar mais da mulherada?”.
Ele me diz que a proposta já estava no radar, nessa sintonia que nos cerca.
As relações humanas, afetivas, amorosas de qualquer gênero formam uma pauta que interessa a ambos e que ele, com razão e sensibilidade, vem servindo em seus festins gastroliterários com o livro Sex and the Kitchen – o Sexo e a Cozinha sobre a mesa. Faltava uma voz feminina.
Quando o Cuecas liberou, a única coisa que pensei foi em chamar As Gurias.
A cada edição, As Gurias vêm aqui falar, contar histórias, recordar e sonhar. Esperamos que mais outras se juntem para ouvir, ler e comentar.
Curadora e escritora nesta coluna, também convido vocês, gurias de todos os cantos do mundo, a escrever e enviar as histórias que desejem contar. As suas, as que ouviram falar, as que são uma lembrança, as que são um sonho – passado, futuro, ficção ou realidade.
Fica o convite para os Cuecas nos ouvirem nessa roda de conversa. Beijos, guris!
As Gurias
(por O Alê do Cuecas)
O Cuecas na Cozinha nasceu em 2007. Faz muito tempo!
Inovador desde o início, não só porque os blogs no Brasil estavam começando e as redes sociais também mas, principalmente, porque homem na cozinha era uma raridade!
Chamar de Cuecas na Cozinha, foi a ousadia máxima da época. Como assim não usar um nome bonitinho e quadradinho para falar sobre comer e beber?
Enfrentei diversos preconceitos!
Tem muita gente que não está preparada para fugir dos rótulos, e sempre haverá.
Até o Google levou mais de 2 anos pra entender que eu não vendia Cuecas e nem era um site que se usava delas para chamar atenção.
A linguagem descontraída com escrita suave, jamais precisou ser pretensiosa para comprovar profissionalismo.
Nunca quis fazer um blog de receitas. Fiz um com receitas, entre tantos outros assuntos relacionados ao estilo de vida de quem gosta de comer e beber.
Cozinhando ideias…
Sempre quis provocar as pessoas, tanto que adotei o Cozinhando Ideias… como lema do Cuecas na Cozinha.
Todos os posts sobre restaurantes, bares, drinks, vinhos, viagens, receitas, livros, eventos, comportamento, etc, são pontos de partida.
É preciso mastigá-los, digeri-los!
Receitas vão muito além de quantos gramas tem uma pitada de sal.
Fico feliz porque ajudei a construir alguns novos homens com sensibilidade para receber as pessoas que amam, pilotando um fogão.
Ajudei, não só com o blog, mas também com meu livro Escola de Maridos & Afins, outra “brincadeira” descontraída para quebrar tabus.
Também me alegra que durante esses anos, muitas mulheres que haviam saído da cozinha, pelo caráter obrigatório e pejorativo que ela tinha, resolveram voltar pelo prazer de cozinhar e receber.
A cozinha é lugar para se encontrar ou reencontrar, não para se perder.
Os últimos tempos com tantas transformações no mundo, tem sido um tanto bicudos na relação masculino e feminino.
Papéis foram completamente descontruídos e deveriam ser, mas pouco se avançou em novos personagens.
O que vemos são seres humanos bastante perdidos. Homens e mulheres nunca estiveram tão próximos e tão distantes!
Pude perceber claramente o descompasso, escrevendo meu romance Sex and the Kitchen – o Sexo e a Cozinha. Quantas colaborações das redes sociais eu tive pra entender as dificuldades dos relacionamentos modernos.
Como num tempo em que temos tantos meios de comunicação disponíveis, as pessoas se comunicam tão pouco? Pior ainda, como vão perdendo sua capacidade de se expressar?
É empobrecedor que nossos pensamentos e sentimentos sejam resumidos a emoticons fabricados.
O livro, do qual agora escrevo a continuação, me levou para um novo caminho.
Sentimentos, emoções, desejos…
Falar de sentimentos, emoções, desejos que podem ser abordados paralelamente a duas questões fundamentais do ser humano: o sexo e a cozinha.
Do romance surgiram enriquecedores jantares criados por diferentes chefs e bate-papos, Brasil afora, com leitoras e leitores.
Tentar contribuir nessa construção dos novos papéis, das novas relações dos seres humanos na sociedade, me interessa.
O mundo não será melhor se não formos pessoas melhores. E não só melhores com o mundo, mas melhores uns com os outros.
Precisamos voltar a amar sem medo!
Está aqui aberto o espaço.
A sugestão da minha querida amiga Luiza Estima de escrever essa coluna “As Gurias”, colocando no ar seus textos e os de tantas outras mulheres convidadas, encontrou pouso perfeito.
Nós Cuecas, queremos ouvir essas Gurias do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste, do Nordeste, do Norte e desse mundão afora!
É com você Lu! Vamos começar com Uva e Vinho e uma grande viagem !
Uva e Vinho – nossa coluna de hoje vai começar
As Gurias – Uva e Vinho
O convite para ir a Bento experienciar as novas propostas de entretenimento na região da Uva e do Vinho era bem legal.
Ficou melhor ainda quando soube que a hostess da jornada seria a mais pop e divertida personagem daquelas bandas – e o melhor, uma amiga de qualquer tempo.
Com ela divido a bomba e a cuia, o quarto do hotel, a conta do restaurante, o guarda-chuva e muitas histórias.
A viagem começou assim: ótimas expectativas!
As Gurias – Uva e Vinho
O vôo rápido no céu azul de brigadeiro desembarca na Porto Alegre de janeiro cheirando a flor.
Porto Alegre é feminina, tem muita água no seu Rio, muito verde entre as árvores que passeiam pelas ruas e tons rosé em seu entardecer.
Uma hora e pouco subindo de carro chego à colônia para um programa chamado Fascínios da Vindima, começando por um fascinante café da manhã no meio do parreiral.
O nome do lanche é merendim, mas concluo que o diminutivo é apenas afetivo, porque a mesona xadrez e comprida que se estende sob os cachos de uvas tem gostosuras a perder de vista.
Onde o meu olhar alcança aliás, está a amiga, de braços abertos, comandando o show entre os convidados jornalistas, agora transmutados em colonos de chapéu de palha e cestos para catar suas próprias uvas no lindo telhado de videira.
Uva e Vinho – hora de trabalhar no parreiral
La Bela Polenta
Todo esse cenário seria menos espetacular sem a presença da família – o nonno, a nonna, mamma e zie vestidos em modelo da época da imigração italiana (1890 a 1930) – e, entre eles, um ragazzo saído de algum filme de Roberto Begnini, violão e voz afinados a cantar La bela polenta.
A musa da canção entoada pelo guri em vêneto está sobre uma grelha aos cuidados do nonno.
Ela é brustolada (passada na chapa quente, para ficar tostadinha) e servida com queijos, salame e copa.
Sirvo tudo junto, montando em camadas a minha porção para inaugurar o sanduíche de polenta, copiado instantaneamente por alguns dos presentes.
Pão colonial, suco de uva, vinho e uma pasta frola mistura figos, mosto de uva e castanhas em uma geleia sensacional.
Estou atulhada e feliz como há tempos.
Uva e Vinho e tantas outras delícias para provar
Non c’è il pranzo gratuito*
Interpreta o nonno com sua gargalhada e nos põe, damas à frente, na pisa da uva como cobaias.
Melhor assim, penso eu, que não quero nem imaginar tomar o suquinho depois que os meninos pisarem as frutas com seus pés saídos de coturnos e meias.
Non ti preoccupe, diz o nonno fazendo o Fellini, sinalizando que é tudo cena.
O dia foi animado.
À medida em que provávamos vinhos, queijos, pães, mais vinhos, doces, brindamos com espumantes, finalizamos com grappa e o entusiasmo e voz do grupo subiam de mãos dadas.
Experimentei azeites da região, com azeitonas diferentes e aromas incríveis, chocolates locais, sagu de espumante (ah…o sagu), pão de queijo com leite de ovelha.
Comprei vinho, erva-mate, geleia e pesto com queijo de ovelha, pensando em desfrutar as iguarias com as amigas na volta pra casa.
Sagu com espumante
Maria Fumaça
No dia seguinte, o hit da programação: passeio na Maria Fumaça em vagão exclusivo para o tour.
23km percorridos em duas horas de janelinha coloridas por paisagens típicas da colônia italiana.
Dentro do vagão, queijos, vinhos, música e aula harmonizada: o sommelier e o cantante formam a combinação perfeita.
A linha férrea foi responsável em grande parte pelo crescimento econômico da região, desde 1909, ao fazer o traslado de mercadorias das indústrias locais.
A Maria Fumaça encerrou as atividades de transporte de passageiros nos anos 1970 e de cargas nos anos 1990, quando foi reformada para o turismo pela empresa da família Giordani, que adquiriu o complexo para esse fim.
A guria que comanda a operação estava lá, como o comandante que recebe os passageiros para o voo à porta do aeronave, que charme.
O passeio é delicioso!
Entre o despojado serviço de vinhos e o embalo das canções, as histórias da Imigração italiana iam sendo narradas, uma preparação para o que estava por vir.
As Gurias – Uva e Vinho na Maria Fumaça
Epopeia Italiana
A próxima parada é no parque temático Epopeia Italiana.
O empreendimento da Giordani Turismo transforma em belo espetáculo as cenas vividas pelas famílias imigrantes desde que deixam a Itália até a chegada ao Brasil, na Serra Gaúcha.
A saga é percorrida pelo público, que embarca junto com os atores em cada cena, interagindo com a história.
Frio na Europa, enjoo no navio, calor na chegada, medo e alegria no dia a dia de muita luta e coragem.
Ao final, celebramos a vitória da família imigrante com biscoitos, suco e vinho.
Deixamos o complexo do parque com a sensação de que nossa própria família estava lá, tamanha a autenticidade cênica.
Vinho e Uva – Epopeia Italiana – foto Sérgio Azevedo
Se estava ou não, eu sabia que mais longe a minha turma me esperava em casa, ao final dessa epopeia pessoal entre uvas e vinhos.
Vou voltar e trazer as gurias que não vieram e já se programaram para juntas fazermos o mesmo programa.
Para mim não vai parecer repeteco nenhum: com as gurias, é sempre tudo novo.
SERVIÇO – Uva e Vinho
- Giordani Turismo: Maria Fumaça / Epopeia Italiana +55.54.3455- 2788
- Vinícola Cainelli : Merendim / Pisa da uva +55.54.3458-1441
- Vinícola Cristofoli : sagu de espumante / azeites gaúchos à venda / vinhos e almoço +55.54.3439-1190
- Vinhos Miolo : degustação Maria Fumaça / degustação na vinícola 0800-9704165
- Vinhos Salton: degustação harmonizada na Vinícola – www.salton.com.br +55.54.2105-1000
- Hotel Vinocap: noites de sono / chimarrão toda hora / ótimo serviço +55.54.3455-7110
- Casa da Ovelha: pão de queijo de ovelha / pesto de queijo de ovelha +55.54.3455.6399
- Chocolate Devorata: barrinhas / trufas +55.54.3462-7263
*There’s no free lunch, ou, em português: não tem almoço grátis.